sábado, 8 de agosto de 2009

A "problemização da deficiência"


Na última quarta-feira em mais uma das enriquecedoras aulas de História da Educação no Brasil com a prof. Mária Aparecida Bergamaschi, dei-me conta de uma situação sobre a qual já havia percebido mas não refletido.
Quando a maioria das pessoas fala com ou sobre alguma pessoa com deficiência utilizam muitos eufemismos como o moço que enxerga pouco ou o rapaz que não ouve e etc... Isso é fruto ainda de um preconceito de se dar o nome correto aos individuos e suas situações, com o receio de magoa-las ou mesmo numa tentativa consciente ou não de marcar sua diferença sendo politicamente correto, como se esta diferença fosse algo tão assombroso como as bruxas do século XVI, e tão deploraveis como o mais horrendo tabu.
Muitos de nós deficientes contribuimos de certa forma com essa questão, primeiro por não aceitarmos nossa condição e não leva-la adiante com naturalidade, buscando ao maximo a padronização com a normalidade, tratando também de relacionar suas deficiencias com termos como "limitação" e "dificuldade". A aceitação do deficiente por sua própria identidade de deficiente, que pode optar por incorpora-la ou não é fundamental para dirimir tais preconceitos e idéias equivocadas sobre os significados que possuem tais representações. .
Mas creio que o termo mais emblemático e mais usado atualmente para denominar a deficiêciao ou a condição de sujeito é a palavra "problema". Digo isto por me sentir incomodado - mesmo que eu saiba não ser propositalmente preconceituoso - quando se referem a mim como "aquele guri com problema", ou "que bom queseu problema não lhe impede disso ou daquilo". Em verdade não sei bem se estão falando dos problemas matemáticos que tenho dificuldade em resolver, dos sentimentais que não os tenho pois me encontro muito bem casado, ou dos futebolisticos que por ser gremista, esses sim me preocupam muito.
Digo com sinceridade que para mim e muitos outros a sua deficiência não se constitui um problema, mas uma condição de vida, um traço caracteristico com o qual convivemos, no qual nos aceitamos, não há nada a ser resolvido nem solucionado. O problema não esta em nossa deficiência mas sim na incapacidade do Outro em aceita-la como parte de nós, como parte do mundo. O grande PROBLEMA, portanto, é não ver a diferença do Outro como um erro a ser corrigido, mas como um brinde a nossa diversidade.

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