sábado, 8 de agosto de 2009

O pior cego é o que quer ver


A uma "primeira vista" essa idéia é tão estapafurdia quanto um show de rock num mosteiro. Mas para mim, esta se trata de uma questão crucial para todos aqueles que se consideram diferentes, ou que são taxados como tal, como os cegos, por exemplo. Muitas vezes somos os protagonistas principais de nossa exclusão. Afinal, os primeiros que tendem a rejeitar a deficiência é o próprio deficiente. Já faz um bom tempo, na verdade nem sei bem quando aconteceu, que decidi romper definitivamente os laços com a normalidade. Até porque como diz Lygia Assumção Baptista em um dos seus livros: "que existe a normalidade isto é inquestionável, mas o que se pode e deve questionar são os critérios que usamos para defini-la". Aceitar-se é o que separa-nos da felicidade ou da melancolia, eu preferi o primeiro. Afirmo categóricamente, pode-se sim ser deficiente e ser feliz, tenho imenso orgulho em fazer parte da diferença, me orgulho de ser deficiente, pois assim é que eu sou, caso eu não tivesse deficiência seria outro, que não o que sou, para o bem e para o mal.
Estas lições e outras tantas aprendi estudando a cultura surda, que é fantástica e rica, conviver com os surdos e estudar sobre suas identidades culturais e cotidianos, me fez ser uma pessoa melhor, e um pesquisador com um rumo, mais atilado e com claras influencias de suas teorias e práticas. Mirem-se na cultura surda.
Perdemos tanto tempo de nossas vidas querendo ser o que não somos, que esquecemos dos jardins floridos que há em nós. Para que me servem os olhos da matéria organica, se tenho alta visão com os olhos d'alma.
Aceitarmo-nos é passo fundamental para sermos aceitos, e condição de um amanhã mais feliz. O pior cego é o que quer ver, porque este não se aceita como tal, mal sabe ele, o quão bela sua deficiência pode ser.

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